11 Fevereiro 2021
Jack Dangermond: Como um Sistema Nervoso Geoespacial Pode Ajudar a Projetar um Futuro Melhor
No passado mês de Novembro, o CEO e fundador da Esri, Jack Dangermond, participou numa TED Salon em que fala com a curadora de tecnologia da TED, Simone Ross, sobre como a Esri está a construir um sistema nervoso geoespacial: uma rede SIG global e interligada que revela padrões e tendências - e pode transformar a forma como tomamos decisões sobre quase tudo. Deixamos-lhe, abaixo, algumas das principais ideias transmitidas ao longo do encontro.
“A Esri desenvolve ferramentas que ajudam as pessoas a fazer o seu trabalho melhor. Utilizando a geografia e a visualização como uma ciência e aliando-as à tecnologia ajudam-nas a tomar melhores decisões, a serem mais eficientes ou a comunicarem melhor os seus projectos.
Suportamos cerca de 35 0000 organizações por todo o mundo que vão desde ONG’s, milhares e milhares delas, que atuam em áreas como a conservação ou relações humanas, até grandes entidades privadas, embora a maioria dos nossos utilizadores trabalhe no sector público, muitas vezes dizemos, que os nossos utilizadores estão a governar o mundo.
Eu entrei na universidade de planeamento, primeiro planeamento ambiental, depois arquitectura paisagista e depois planeamento urbano. E durante a minha progressão académica comecei a entender claramente o conceito de problem-solving, porque é essa a génese do planeamento. Existe um problema e de uma forma criativa desenhamos uma solução para esse problema. E em Harvard, comecei a interessar-me por sistemas e computação e então percebi que podia aplicar a tecnologia ao planeamento ambiental.
Adoro a ideia de pegar nas teorias dos sistemas e na tecnologia e de aplicá-los à solução de problemas relacionados com o planeamento ambiental.
O nosso ponto de partida foi fazer pequenos projectos de estudos ambientais, utilizando a tecnologia para tomarmos decisões, que eram maioritariamente decisões de planeamento. E fizemos isto durante cerca de dez anos. Criámos algumas das primeiras ferramentas de digitalização de mapas e algumas das primeiras ferramentas para criar mapas digitais. Criámos as primeiras ferramentas de análise espacial a serem comercializadas. E os nossos clientes começaram a querer fazer o que nós fazíamos. E então começámos a pensar na possibilidade de criar um produto que as pessoas pudessem usar em qualquer lado. E a grande ideia por trás deste produto era a integração da informação usando princípios geográficos. Passámos de uma empresa que fazia projectos para uma empresa que comercializa produtos e que constrói sistemas que ajudam as organizações a fazer o seu trabalho melhor.
Todos os factos que conhecemos eu penso neles como camadas: características físicas, características ambientas, características demográficas, agregamos tudo isto num SIG através da sua sobreposição conseguimos melhores planeamentos. Planeamos usando todos os factores de forma holística. Isto foi o que, enquanto estudante me entusiasmou, porque eu percebi que podia juntar todas as “grafias”, a geologia, a sociologia, a climatologia, juntar todas e a partir daí tomar melhores decisões, e por isso eu vejo a geografia como a mãe de todas as ciências, porque é integradora. E a geografia digital, o que chamamos de SIG, permite-nos utilizar esse instrumento para aumentar a transformação na forma como as pessoas tomam decisões. Agora podem olhar para um todo, e não apenas uma parte. Não é apenas fazer dinheiro, nem apenas a conservação do território… não é apenas uma coisa ou outra. É a optimização de vários factores ao mesmo tempo. E é muito como a nossa mente funciona. Nós desenvolvemos ferramentas que permitem abstrair-nos da realidade, observá-la e depois analisar todas as relações entre estes factores e criar entendimento.
Atualmente nós temos o que chamamos de WebSIG, ou seja, o SIG está na web e é distribuído por diversos centros de informação que extraem dados, fazem a georreferenciação e usam a localização como integrador.
Podemos dizer que misturamos diferentes camadas de diferentes serviços ou diferentes fontes de informação. E os nossos utilizadores estão a consolidar o conhecimento de forma dinâmica em coisas como as cidades inteligentes ou como ouvimos muito atualmente em digital twins. Ou seja, toda a realidade geográfica é difundida para as organizações.
Todos estes desafios que estamos a enfrentar hoje podem ser analisados não só através da informação em tempo real em mapas, mas também ao integrarmos esses dados com análise espacial ou de localização, percebermos as relações e padrões entre eles. Não é apenas vê-los, é de uma forma clara e explicita entendermos as relações entre, por exemplo, o cancro da mama e a poluição que existe numa geografia em particular. Podemos entender estes factores de forma quantitativa e como resultado, agir.
Esta área do geodesign é sobre incorporar os sistemas geográficos e o conhecimento no processo de planeamento de forma a que possamos ser guiados pela natureza e possamos ser mais sensíveis às suas necessidades. É pensar no mundo como um jardim. E tal como na jardinagem é necessário extrair ervas daninhas, proteger as plantas e ter a certeza de que tudo é tratado como suposto, e que o jardim é regado. E a verdade é que neste momento da forma como estamos organizados, a forma como pensamos e a forma como a informação chega até nós, nós não pensamos como num jardim, não pensamos de forma holística, não pensamos nas relações que existem e que estão a afectar as nossas vidas. E como resultado estamos descuidados, poluímos o ambiente e estamos a arruiná-lo.
Começámos a desenvolver esta ideia de transformar organizações inteiras, empresas inteiras. Por isso passámos de projectos para sistemas e para uma transformação organizacional que permitisse às organizações a intencionalmente observar todos os factores. E agora entrámos numa quarta fase com a qual estamos muito comprometidos. As primeiras três fases envolveram certas formas de inovação da tecnologia, mas a quarta fase é sobre a web e a utilização de serviços web. E a intenção não é apenas transformar uma organização de cada vez ou um projecto de cada vez, mas sim transformar a sociedade de forma a elevarmos a fasquia através da tomada de consciência e do conhecimento geográficos para percebermos o que a pegada humana está a causar. E isto é absolutamente transformacional porque as pessoas não querem fazer as coisas de forma errada, pelo contrário querem saber o que fazer e colocar o pé no sítio certo. Construir um Sistema Geoespacial vai permitir-nos guiar a sociedade nesse caminho. E na verdade, isto é, mais do que ter alguém a guiar outros, é uma rede interconectada a produzir conhecimento, a partilhar conhecimento e a utilizar o conhecimento uns dos outros. Isso é conhecimento multidisciplinar, diferentes tipos de conhecimento científico para que possamos ver e compreender antes de agir. O que fazemos é desenvolver ferramentas que integram informação de diferentes organizações. E actores independentes em organizações independentes estão por todo o mundo a construir aquilo que eu gosto de chamar Infraestrutura Geoespacial. E estão a apoiá-la na web. Ou seja, uma entidade está a produzir informação e outra entidade pode usar essa informação juntamente com a sua e a partir daí tomar decisões melhores e mais sustentadas.
Então o que eu penso que podemos fazer é minimizar o impacto da população. Podemos optimizar o que fazemos, podemos poupar energia, podemos fazer todas estas coisas. E eu tenho um feeling muito positivo sobre o futuro. Isto é o que me motiva dia e noite. Eu tive esta visão há 50 anos, de que temos de fazer isto. Não é uma questão de resultados, é a única maneira que penso que temos de criar um futuro mais sustentável. Temos que aplicar a nossa melhor ciência, o nosso melhor planeamento e pensamento critico, temos de aplicar as nossas melhores teorias de sistemas, temos de aplicar as nossas melhores tecnologia, de uma forma concertada para podermos enfrentar os grandes desafios com que nos deparamos. E a Esri, enquanto organização, sempre foi e sempre vai ser sobre juntar todos os esforços para poder, de forma independente, suportar as organizações a fazerem o seu trabalho desta forma mais holística. Esta é a grande visão.
Eu acho que este grande passo que estamos a dar em direcção ao WebSIG e que está a começar agora vai acontecer durante os próximos anos, e em alguns casos, estamos mesmo a tempo.
Já não é apenas sobre organizações. Estamos a começar a ver unificadores, integradores destes sistemas individuais a começarem a utilizar este sistema dos sistemas que eu acredito consegue comunicar e transformar o mundo.”